segunda-feira, 7 de junho de 2010

Onde os hermanos sempre ganham


Tem duas coisas que os argentinos fazem indiscutivelmente melhor que a gente: doce de leite e cinema. Ainda bem, porque se fizessem filme igual ao resto da América do Sul o negócio ia ficar complicado. Cinema argentino é cinema de bom roteiro. E mesmo que eles não tivessem atores e diretores tão bons, ainda assim o cinema deles ia ser melhor do que o nosso. Fazer o quê: nós ganhamos mundiais de futebol, eles ganham Oscars. Cada país tem o prêmio que merece.
O Segredo dos Seus Olhos é um dos melhores filmes que eu vi na vida. É até difícil falar qual foi a cena que eu mais gostei, porque tem tantas seqüências maravilhosas, e tantos monólogos inacreditáveis, que citar um trecho em detrimento de outro vira a escolha de Sofia. Eu achava que ninguém no mundo era capaz mais de fazer uma história desse tipo. De verdade, eu achava que as pessoas não eram mais inteligentes e sensíveis e geniais como os gênios do passado. Mas, ainda bem, as pessoas sempre me surpreendem.
O Segredo é daqueles filmes que faz o espectador se achar muito inteligente. Porque a gente vai assistindo e vai entendendo o que ele quer dizer. Vai chegando a conclusões sobre os personagens e sobre o desfecho da história. Vai comprando o que o roteirista conta, e como ele conta. Você sai do cinema pensando ainda sobre o que acabou de ver; você senta no bar e pede um chope e conversa sobre o filme e, quando vai dormir, você se lembra do monólogo sobre a paixão de cada um.
Talvez essa seja a minha cena preferida. O monólogo sobre a paixão. Não a paixão de enamorados, mas o amor e a mania que cada um carrega dentro de si.
E mais uma coisa boa: o título em português é a tradução exatada do nome original, e quem tem tudo a ver com o filme. Nenhum exibidor tentou ser criativo ao trazer o filme ao Brasil, ninguém se atreveu ou se preocupou em inventar nada. Ainda bem. Criatividade ruim atrapalha.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Guerra ao Avatar

O sargento Willian James, recém chegado do Iraque, olha confuso para uma enorme parede de supermercado, onde dezenas de tipos diferentes de cereal matinal estão à disposição dos clientes. Pra mim, essa é a melhor cena de Guerra ao Terror: o cara volta de um país onde faltam condições básicas de sobrevivência e dá de cara com a sua terra natal, o lugar das oportunidades e do consumo, lar da "polícia do mundo".

Eu gostei de Guerra ao terror. Faz sentido ele ter levado o prêmio da Academia, porque definitivamente é um filme de Oscar. Tem o herói inconsequente, que não respeita as regras. Tem o cara que não gosta do herói, mas que depois vira seu melhor amigo. Tem o garoto novinho que foi jogado no combate. Todos os elementos estão ali. Mas o motivo que me fez gostar do filme é que, além de ser uma produção barata (que contrasta absurdamente com o outro favorito ao Oscar, Avatar), esse filme é um filme de roteirista. Guerra ao terror só existe porque o Mark Boal se meteu no Iraque, passou não sei quanto tempo lá, escreveu o filme e entregou nas mãos da Kathryn Bigelow.

O fato de ele ter sido lançado diretamente em DVD aqui no Brasil me faz pensar se os responsáveis por trazer títulos estrangeiros pra cá não estão muito equivocados quanto ao gosto do brasileiro. Ou eles acham que a gente não passa de um bando de ignorantes, ou eles não entendem nada de cinema blockbuster. De qualquer forma, ainda dá tempo. Eu peguei no vídeo. Você ainda pode ver no cinema, se animar.

E esse é o meu palpite de melhor cena (que só funciona, obviamente, no contexto geral do filme):

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pseudo Bossa Nova (e boa)

Sexta passada foi dia de show do Nouvelle Vague no Circo Voador. Em qualquer outra situação, eu consideraria uma concorrência desleal estar no mesmo raio de 100 metros daquelas meninas francesas lindas, magras e fofas. Mas na situação do Circo, tudo bem. Primeiro, porque o show foi incrível, muito melhor que o de 2007 - e nem o bando de playboys que dominou o Circo no dia conseguiu estragar. Segundo porque foi baratinho (um quilo de alimento + R$60). Terceiro porque francesas lindas combinam com palcos e arranjo lounge. Então, tudo estava certo.

O Nouvelle Vague é uma banda francesa que tem como objetivo transformar clássicos do punk rock e do new wave em... bossa nova. Não preciso nem dizer o quanto os integrantes são apaixonados pelo Brasil. Principalmente pelo Rio de Janeiro, cidade que os franceses, de modo geral, adoram adorar. A música do Nouvelle Vague dá vontade de ficar abraçadinho com alguém. É fofa, é calminha, mas também pode ser dançante, como foi provado na noite do show.

Eu acho que eles estão deixando de lado essa história de bossa nova - o que pra mim, sinceramente, não faz nenhuma diferença. E, dentre as novidades, estão as cantoras: a belga Helena Nogueira, e a brasileira Karina Zeviani, que também cantava no Thievery Corporation (e que me irritou pessoalmente por não ter um milímetro de gordura mal localizada no corpo).

O ponto alto do show foi a cover de Blisters in the Sun, do Violent Femmes. O público fez corinho (tudo bem, só no refrão, mas já vale, né), dançou junto, animou. Depois dessa música, o show subiu um degrau, só com músicas incríveis: Too drunk to fuck, Matter of Speaking, Blue Monday... Aí já estava tudo dominado. Na hora do bis, os músicos voltaram três vezes ao placo. E com certeza teriam voltado mais, se houvesse tempo. O povo só saiu de perto do palco soltaram aquelas músicas característica de "acredite, o show acabou". Mas todo mundo foi embora feliz. E mais fofinho.

Abaixo, um trecho que alguém conseguiu filmar de Blisters in The sun e In a Manner of Speaking no Circo. Pra quem quiser se animar de baixar a banda.



segunda-feira, 8 de março de 2010

Na correnteza

Não assisto à maioria dos diretores brasileiros. Não vejo Cacá Diegues, nem Bruno Barreto, muito menos Hector Babenco. É um preconceito, eu assumo: não gosto dos dinossauros do cinema brasileiro. Mas gosto de todos os outros répteis cinematográficos. E foi assim que me permiti assistir À Deriva, do Heitor Dhalia, o mesmo diretor de O Cheiro do Ralo, que eu nem gostei tanto assim. O que me atraiu no último filme de Dhalia foi o cartaz maravilhoso, que remete um pouquinho aos filmes europeus, não é? E, depois de ver À Deriva, acho que a obra não fica nem um pouco atrás de uma produção européia. Aliás, a fotografia é uma das mais bonitas do cinema brasileiro - comparando dentro do meu pouco conhecimento sobre o gênero, é claro.

À Deriva conta a história de Felipa, uma menina de 14 anos que tem um verão arrasador em Búzios. Descobre que o pai tem um caso, que a vida dos adultos é cheia de mentiras e hipocrisias, descobre um beijo na boca de um menino que é apaixonado por ela - mas que ela não parece gostar tanto dele - e descobre outras muitas coisas que talvez sejam precoces demais para uma adolescente.

É triste, já deu pra sacar. Mas também é bonito. Cada take é inspirador, e a menina que tem o papel principal, Laura Neiva, cumpre direitinho sua tarefa. É o tipo de filme que faz a gente pensar se quer ser aquilo quando crescer, assumindo que mesmo quem tem 70 anos ainda não cresceu de vez.

Não sei dizer qual é a sequência que eu mais gosto do filme. Mas sei que existem vários momentos que eu entendi aquela garota, pelo menos um dos mil conflitos que ela estava passando ao mesmo tempo. Eu acho que vale a pena passar na locadora e assistir ao dvd em um sábado ensolarado à tarde. Porque depois que acaba, a gente fica meio melancólica, então é bom ter o sol de quase domingo pra esquentar a alma de novo.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Outra maneira de fazer cinema

Pra variar, acho que fui a última pessoa do mundo a assistir Avatar. Eu já tinha ouvido todas aquelas histórias de que quem fosse ver o filme deveria esquecer o roteiro e se concentrar no visual, etc etc. Acho estranha essa coisa de esquecer a história do filme, porque pra mim o mais importante no cinema é o roteiro. A gente atura uma fotografia mais ou menos, uma produção de baixo orçamento, mas não atura trama ruim. Mesmo assim, me despi de todos os preconceitos possíveis e vesti os óculos 3D.

Aí veio a primeira cena, aquela em que o protagonista acorda depois de tantos anos em coma. Achei maravilhoso! Fiquei tonta. Me senti flutuando como o resto dos atores. Pela primeira vez tive aquela sensação que o meu professor de assistência de direção descreveu, de que o espectador do filme é o voyeur, de que ele está na cena, como o terceiro olhar. E depois disso, foi uma sequência de cenas maravilhosas: a floresta noturna, as sementes flutuantes da árvore dos ancestrais, os vôos de helicóptero pelas montanhas suspensas.

Lá pelo fim da primeira hora de filme, no entanto, as belas cenas passaram a se repetir. A floresta noturna - de novo. As sementes flutuantes - de novo. Começou a me dar sono, fome e tédio. Percebi que checava o relógio a cada 20 minutos, e que tinha vontade de abandonar tudo no meio.

Mas por que, afinal, Avatar tem tantas indicações aos Oscar? O que sustenta esse filme pra ele ser tão levado a sério? Não consigo entender. Acho que vale a pena a ida ao cinema pela tecnologia empregada - desde que a exibição seja em 3D. Não me imagino assistindo ao DVD, nem à exibição normal. Seria chato demais. Uma maldade comigo mesma.

No final das contas, o palpite é: vá assistir. Mas se der soninho, tira um cochilo no cinema. Você já sabe como vai ser o fim do filme na abertura dos créditos mesmo...

Quer uma amostra? Tá aqui.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Música de quarentão



Um dos dias mais felizes da minha vida foi ver o LCD Soundsystem tocar no Circo Voardor, em 2007. Estava chovendo, e por isso tinha pouca gente no Circo, o que deixava tudo com aquele clima de "festa lá em casa", com várias interrupções por conta da bateria que dava defeito, e uma pequena multidão de admiradores boquiabertos. Foi uma noite histórica. O baterista, que a todo momento parava a apresentação, foi carinhosamente apelidado pelo público de "shortinho e docksider", devido ao seu figurino no dia. No ponto alto da noite, que eu também já não lembro qual foi, a Luiza me abraçou e disse: "Que bom que estamos aqui nos divertindo!" Foi um êxtase coletivo, e do tipo não sintético.

James Murphy, o cantor, compositor e idealizador da banda, descobriu que tinha talento pra coisa quando já passava dos quarenta. Montou a DFA Records e lançou os tipos mais animados e modernos dos últimos tempos. Provou que é mais jovem que um monte de gente com vinte e poucos que anda fazendo música por aí. Por isso, eu respeito.

O segundo disco da banda, que também se chama LCD Soundsystem, é o meu preferido. Acho perfeito, do começo ao fim, meio triste às vezes, mas alegrinho na maior parte do tempo. E dançante, sempre dançante. Uma mistura de punk, disco, funk e house, pra gongar todos aqueles que cismavam em dizer que não dá pra misturar rock com batidas eletrônica.

Mas tem outra coisa também. O LCD é a banda mais novaiorquina que eu conheço. Eles e o Lou Reed, mas esse aí já ganhou a estatueta há muito tempo. As letras do LCD são tão NY que me dá saudade louca daquele lugar que eu tanto amei e odiei.

Minha música preferida é "Someone Great", uma poesia melancólica sobre o fim de um relacionamento amoroso. A gente acha que esse tema se esgotou até ouvir algo tão verdadeiro quanto a dor que ele canta. Eu já passei por isso, você também. Todo mundo já sufocou pelo coração partido! Mas a verdade é que a gente sempre sobrevive...

Outra coisa: o clipe da música é lindo demais. Assista agora ou se arrependa para sempre.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Falando japonês

Lost in Translation, que no Brasil se chama "Encontros e Desencontros", pra mim sempre será Lost in Translation. Explicando melhor: nenhum outro título cai tão bem ao filme quando o original em inglês. Durante muito tempo esse foi o meu filme preferido: baixei o disco do Jesus and Mary Chain por causa da cena final, comprei o DVD a R$12 nas Lojas Americanas, e assistia sempre que estava de TPM. E chorava, como eu chorava!

Mas um dia roubaram meu DVD, o disco do Jesus and Mary Chain ficou no HD estragado de um ex, e só sobrou a minha admiração pelo filme autobiográfico da Sofia Copola. E o meu palpite é que todo mundo tem que ver.

Primeiro, vamos pensar na diretora e autora do filme. Filha de Francis Ford Copola, ela conseguiu transformar o que seria um problema (ninguém quer ser comparado com os pais, blá blá blá...) em solução quando voltou o tema dos seus filmes pra dentro, se afastando completamente do estilo do pai. Essa Sofia, que deve ter a minha idade - e eu odeio e admiro quem tem a minha idade e já fez coisas tão geniais - estreou com As Virgens Suicidas, e é amiga do povo do Air e do Chemical Brothers. Sem dúvida, ela é uma menina rock n roll.

Agora, vamos falar da atriz principal. É a Scarlet Johansen, a única das beldades holliwoodianas que tem uma barriguinha e que, por isso mesmo, já desperta a minha simpatia. Aquela que virou musa do Woody Allen, que cantou de surpresa no show do Jesus and Mary Chain e que depois lançou um disco que fez sucesso. Rock n roll idem.

Por fim, vamos falar da locação. O filme é todo passado em Tóquio, o destino mais hype de qualquer turista, o lugar que une o tecnológico à tradição milenar, aos costumes rígidos e ao duvidoso gosto pelo karaokê. Puro rock.

E por que eu gosto tanto desse filme? Bom, porque lá pela terceira ou quarta vez que eu assisti Lost in translation, eu entendi o que ele dizia. Que a tradução que os personagens de Scarlet e Bill Murray procuravam não era pelo idioma. Era uma língua que só os dois falavam, e por isso eles se entendiam mutuamente - nem o marido da Scarlet, nem a mulher do Bill conseguiam captar o que eles falavam. Mas os dois se entendiam perfeitamente.

A minha cena favorita é, sem dúvida nenhuma, o final. O famoso sussurro, que todo mundo fica querendo saber o que é, mas que na verdade não interessa ao resto do mundo. Só quem pode entender o que foi dito naquele sussurro são aqueles dois, e portanto explicar o que foi dito é uma tentativa boba de quem também ficou perdido no filme.

Mas eu não achei a minha cena favorita no Youtube. Por isso, vou postar o trailer mesmo. E quem ficar curioso sobre o final deve pegar alugar o filme, e ver (ou rever) uma das histórias mais bonitas que eu já vi. Esse é meu palpite.