quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Outra maneira de fazer cinema

Pra variar, acho que fui a última pessoa do mundo a assistir Avatar. Eu já tinha ouvido todas aquelas histórias de que quem fosse ver o filme deveria esquecer o roteiro e se concentrar no visual, etc etc. Acho estranha essa coisa de esquecer a história do filme, porque pra mim o mais importante no cinema é o roteiro. A gente atura uma fotografia mais ou menos, uma produção de baixo orçamento, mas não atura trama ruim. Mesmo assim, me despi de todos os preconceitos possíveis e vesti os óculos 3D.

Aí veio a primeira cena, aquela em que o protagonista acorda depois de tantos anos em coma. Achei maravilhoso! Fiquei tonta. Me senti flutuando como o resto dos atores. Pela primeira vez tive aquela sensação que o meu professor de assistência de direção descreveu, de que o espectador do filme é o voyeur, de que ele está na cena, como o terceiro olhar. E depois disso, foi uma sequência de cenas maravilhosas: a floresta noturna, as sementes flutuantes da árvore dos ancestrais, os vôos de helicóptero pelas montanhas suspensas.

Lá pelo fim da primeira hora de filme, no entanto, as belas cenas passaram a se repetir. A floresta noturna - de novo. As sementes flutuantes - de novo. Começou a me dar sono, fome e tédio. Percebi que checava o relógio a cada 20 minutos, e que tinha vontade de abandonar tudo no meio.

Mas por que, afinal, Avatar tem tantas indicações aos Oscar? O que sustenta esse filme pra ele ser tão levado a sério? Não consigo entender. Acho que vale a pena a ida ao cinema pela tecnologia empregada - desde que a exibição seja em 3D. Não me imagino assistindo ao DVD, nem à exibição normal. Seria chato demais. Uma maldade comigo mesma.

No final das contas, o palpite é: vá assistir. Mas se der soninho, tira um cochilo no cinema. Você já sabe como vai ser o fim do filme na abertura dos créditos mesmo...

Quer uma amostra? Tá aqui.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Música de quarentão



Um dos dias mais felizes da minha vida foi ver o LCD Soundsystem tocar no Circo Voardor, em 2007. Estava chovendo, e por isso tinha pouca gente no Circo, o que deixava tudo com aquele clima de "festa lá em casa", com várias interrupções por conta da bateria que dava defeito, e uma pequena multidão de admiradores boquiabertos. Foi uma noite histórica. O baterista, que a todo momento parava a apresentação, foi carinhosamente apelidado pelo público de "shortinho e docksider", devido ao seu figurino no dia. No ponto alto da noite, que eu também já não lembro qual foi, a Luiza me abraçou e disse: "Que bom que estamos aqui nos divertindo!" Foi um êxtase coletivo, e do tipo não sintético.

James Murphy, o cantor, compositor e idealizador da banda, descobriu que tinha talento pra coisa quando já passava dos quarenta. Montou a DFA Records e lançou os tipos mais animados e modernos dos últimos tempos. Provou que é mais jovem que um monte de gente com vinte e poucos que anda fazendo música por aí. Por isso, eu respeito.

O segundo disco da banda, que também se chama LCD Soundsystem, é o meu preferido. Acho perfeito, do começo ao fim, meio triste às vezes, mas alegrinho na maior parte do tempo. E dançante, sempre dançante. Uma mistura de punk, disco, funk e house, pra gongar todos aqueles que cismavam em dizer que não dá pra misturar rock com batidas eletrônica.

Mas tem outra coisa também. O LCD é a banda mais novaiorquina que eu conheço. Eles e o Lou Reed, mas esse aí já ganhou a estatueta há muito tempo. As letras do LCD são tão NY que me dá saudade louca daquele lugar que eu tanto amei e odiei.

Minha música preferida é "Someone Great", uma poesia melancólica sobre o fim de um relacionamento amoroso. A gente acha que esse tema se esgotou até ouvir algo tão verdadeiro quanto a dor que ele canta. Eu já passei por isso, você também. Todo mundo já sufocou pelo coração partido! Mas a verdade é que a gente sempre sobrevive...

Outra coisa: o clipe da música é lindo demais. Assista agora ou se arrependa para sempre.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Falando japonês

Lost in Translation, que no Brasil se chama "Encontros e Desencontros", pra mim sempre será Lost in Translation. Explicando melhor: nenhum outro título cai tão bem ao filme quando o original em inglês. Durante muito tempo esse foi o meu filme preferido: baixei o disco do Jesus and Mary Chain por causa da cena final, comprei o DVD a R$12 nas Lojas Americanas, e assistia sempre que estava de TPM. E chorava, como eu chorava!

Mas um dia roubaram meu DVD, o disco do Jesus and Mary Chain ficou no HD estragado de um ex, e só sobrou a minha admiração pelo filme autobiográfico da Sofia Copola. E o meu palpite é que todo mundo tem que ver.

Primeiro, vamos pensar na diretora e autora do filme. Filha de Francis Ford Copola, ela conseguiu transformar o que seria um problema (ninguém quer ser comparado com os pais, blá blá blá...) em solução quando voltou o tema dos seus filmes pra dentro, se afastando completamente do estilo do pai. Essa Sofia, que deve ter a minha idade - e eu odeio e admiro quem tem a minha idade e já fez coisas tão geniais - estreou com As Virgens Suicidas, e é amiga do povo do Air e do Chemical Brothers. Sem dúvida, ela é uma menina rock n roll.

Agora, vamos falar da atriz principal. É a Scarlet Johansen, a única das beldades holliwoodianas que tem uma barriguinha e que, por isso mesmo, já desperta a minha simpatia. Aquela que virou musa do Woody Allen, que cantou de surpresa no show do Jesus and Mary Chain e que depois lançou um disco que fez sucesso. Rock n roll idem.

Por fim, vamos falar da locação. O filme é todo passado em Tóquio, o destino mais hype de qualquer turista, o lugar que une o tecnológico à tradição milenar, aos costumes rígidos e ao duvidoso gosto pelo karaokê. Puro rock.

E por que eu gosto tanto desse filme? Bom, porque lá pela terceira ou quarta vez que eu assisti Lost in translation, eu entendi o que ele dizia. Que a tradução que os personagens de Scarlet e Bill Murray procuravam não era pelo idioma. Era uma língua que só os dois falavam, e por isso eles se entendiam mutuamente - nem o marido da Scarlet, nem a mulher do Bill conseguiam captar o que eles falavam. Mas os dois se entendiam perfeitamente.

A minha cena favorita é, sem dúvida nenhuma, o final. O famoso sussurro, que todo mundo fica querendo saber o que é, mas que na verdade não interessa ao resto do mundo. Só quem pode entender o que foi dito naquele sussurro são aqueles dois, e portanto explicar o que foi dito é uma tentativa boba de quem também ficou perdido no filme.

Mas eu não achei a minha cena favorita no Youtube. Por isso, vou postar o trailer mesmo. E quem ficar curioso sobre o final deve pegar alugar o filme, e ver (ou rever) uma das histórias mais bonitas que eu já vi. Esse é meu palpite.