domingo, 17 de janeiro de 2010

Tem gente que ainda sabe escrever

Andei uma época desanimada com a vida literária. Achava que tinha desaprendido a gostar de ler, se é que isso é possível, porque todos os últimos romances aos quais tinha dedicado meu tempo me deixaram entediada demais, com vontade de largar tudo no meio - coisa que não faço com livros (eu costumo me torturar até o final). Fui salva da minha briga com a leitura por uma amiga que me indicou o livro do Jonathan Safran Foer, um novaiorquino da minha idade e que escreve maravilhosamente bem, the bastard. E foi assim que conheci Extremamente alto & Incrivelmente Perto.

O livro tem o pós 11 de setembro como pano de fundo. Conta a história de um menino de uns 9 anos que viveu essa tragédia de uma maneira muito próxima, mas eu não posso falar mais do que isso, porque seria estragar a experiência de quem se aventurar a ler. Aliás, estraguei a leitura de alguns amigos ao recomendar com tanto entusiasmo o livro. Essas coisas que a gente faz quando fala demais e cria expectativas monstras para os outros.

Me apaixonei por Oskar, o menino do livro. Eu lia e me emocionava, e chorava demais, e tomava uns socos existenciais tão necessários de vez em quando. Não se trata de uma leitura maldita, é uma história singela de um garoto que mora em Nova York e que pensa sobre as mudanças da sua vida depois do ataque terrorista. E que ama a avó, com quem tem uma relação maravilhosa. E que pensa em maneiras de melhorar o mundo, e em invenções que eu não sei ainda como não foram inventadas, como o colchão com um buraco no meio, para que caiba o braço de quem está abraçado com outra pessoa, deitada ao lado. Eu queria um colchão desses.

Leia. Mas não vá com muita sede ao pote, como os meus amigos fizeram. Vá tranquilo, pra ver como é.
Tenho certeza de que não vai ser entediante.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Falling for androids with delayed reaction

Tive que assistir duas vezes 2046 pra poder entender o filme direito. Que roteirozinho complicado... Duas histórias paralelas, que vão e voltam, e que usam os mesmos atores em uma e em outra. Uma se passa na década de 1960, e mostra a trajetória de um escritor. A outra se passa em 2046, e conta a história escrita pelo autor dos anos 60. E cada personagem do livro de 2046 é uma homenagem a alguém "real" da vida do escritor. Um paralelo entre as duas vidas. Fácil, né?

Confesso que, quando assisti no cinema, dei uma voada e perdi totalmente o fio do roteiro. Às vezes eu faço isso: no meio do filme, começo a pensar na vida, em como estão as coisas, no que precisa melhorar... E aí, quando volto à tela, tenho que correr atrás do prejuízo pra voltar a entender o que está passando. Geralmente, eu consigo. Mas não nos filmes do Wong Kar Wai.

Mas na segunda vez assisti em DVD, na casa de uma amiga do coração, que também foi minha companhia no cinema na primeira exibição. Naquele primeiro dia, a minha amiga se esvaiu em lágrimas, enquanto eu pensava no que tinha pra jantar. Eu me surpreendi quando vi que ela estava tão emocionada. Não entendi o por quê daquilo tudo. Mas quando revimos o filme no seu apartamento de São Paulo, todas as fichas caíram, todos os simbolismos fizeram sentido (sim, é cheio de simbolismos, sem ser pedante), toda a direção de arte se mostrou maravilhosa. Tudo perfeito. E eu fiquei obcecada pelo filme.

Corri que nem louca atrás dessa poster aí, que ilustra o texto. Não existe poster mais bonito que esse. Acabei ganhando de aniversário de um ex-namorado que, sensibilizado com a minha busca sem sucesso, conseguiu encomendar de um site alemão. Mandei enquadrar e coloquei na parede da sala, em cima do sofá, mas o cara que enquadrou mandou muito mal, e o poster acabou enrugando. Realmente, uma pena.

A minha cena preferida em 2046 é a que o herói do livro se apaixona por uma andróide com defeito de fabricação, que só entende as coisas depois de certo tempo que elas são ditas. Daí vem a frase "Falling for androids with delayed reaction". Cada carícia, cada beijo, cada declaração que ele fazia à robô só era sentida por ela mais tarde, quando ele já não estava perto.
Quantos andróides com efeito retardado a gente não conhece ao longo da vida?

Meu palpite é adiantar esse vídeo até os 3 minutos para ver a cena da andróide com efeitos retardados.